sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Brasil já não precisa do PMDB. Mas, quando os governos perderão essa necessidade?

O PMDB teve um papel importante na vida política do Brasil como MDB. Nascido em meados dos anos sessenta, o MDB era o que se convencionou chamar de oposição consentida. Durante a ditadura militar foi o partido responsável por levar ao Congresso Nacional a voz da oposição ao Regime. Do lado oficial havia a Arena. O partido se fez com a adesão de ex-petebistas e ex-pessedistas, aliados de JK e de Getúlio e Jango, além de alguns udenistas descontentes com os rumos da "Revolução" (na minha opinião e da maioria um Golpe). A Arena era o contrário: maioria de udenistas, um bom número de pessedistas e alguns poucos, pouquíssimos, petebistas.

Pois bem. Ao longo dos anos de bipartidarismo, e de volta ao multipartidarismo no final dos anos 70, o MDB trouxe ao Congresso temas como a Anistia, as Diretas e apresentou o nome de Tancredo Neves para a eleição do Colégio Eleitoral em 1985, o seu vice era Sarney. A necessidade e a única forma de vencer a eleição foi a união com os dissidentes do PDS, que depois formaram o PFL, e a aceitação de José Sarney como vice na chapa de Tancredo. Talvez este tenha sido o pecado original do PMDB (desde 79 com o P na frente do MDB). Um pecado necessário, ja que naquele momento a vitória de Tancredo seria impossível sem o apoio de dissidentes do PDS e visto que, daquele lado, embora muitos apoiadores da Ditadura, havia personalidades que poderiam ainda contribuir para o país.

A vitória a qualquer custo foi a primeira abertura do guarda-chuva que se tornou o PMDB, ali o partido virou o que se chama na Ciência Política de catch-all-parties (partidos cata-tudo, em uma tradução livre). O gigantismo do PMDB a partir de 1986 fez do partido o destino de políticos de todas as estirpes, afeitos às práticas menos condizentes com a ética e a boa administração pública. Os históricos perderam espaço, principalmente aqueles que tentaram se manter na seriedade.

Com isso, o PMDB se fez necessário. Imprescindível a todos os governos. A partir deste momento o partido deixou de ser necessário ao país. Passou a ser a representação do que de mais atrasado existe em termos políticos. Mas, graças ao seu tamanho - e a sua prática política largamente baseada no clientelismo, no coronelismo, do toma-lá-dá-cá (uma verdadeira síntese da política nacional ao longo da República) - tornou-se extremamente necessário à tal da Governabilidade. Assim foi com Sarney, assim teria sido com Collor, assim foi com Itamar, assim foi com FHC e assim é com Lula. É um partido de governo, independente de quem seja o governo. Por isso mesmo é hoje um partido nefasto e inútil para o país. O PMDB consegue ser hoje mais atrasado do que a antiga UDN, que ao menos tinha a Bossa Nova com algum interesse modernizador.

Mas, como acabar com esta dependência? É difícil por causa da estrutura que o PMDB tem nos estados e nos municípios - a maior do país. Uma repetição em muitos aspectos do que era o PSD entre 45 e 64. Um início do fim desta dependência passa pela união entre PT e PSDB, os dois maiores partidos quando o assunto são eleições presidenciais. Difícil? Sim. Impossível? Não. As diferenças entre PSDB e PT hoje são mais pontuais do que programáticas. Os dois partidos são muito parecidos e o grande entrave talvez ainda seja o estado de São Paulo. Há alianças entre tucanos e petistas em vários estados. O mais importante deles é Minas Gerais. Seria um caminho longo, mas possível e talvez o melhor para o país. Uma espécie de aliança a exemplo do que ocorre no Chile. Lá, a Concertación governa desde 1991 e vem trazendo o país para uma posição de destaque no cenário mundial com índices sociais interessantes e a previsão de se tornar um país de primeiro em 2020, quando a renda per capita deve alcançar US$ 20 mil (igual a de Portugal).

PT e PSDB têm suas mazelas, suas fraquezas. São, inegavelmente, partidos com muitos defeitos. Porém, são hoje os únicos partidos com capacidade de formular uma política para o Brasil (desde que queiram e não se deixem levar por fisiologismos).

Seria um caminho.

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