A divisão dos partidos políticos em esquerda ou direita tem sido, nos últimos tempos, uma interpretação válida mais para os teóricos da Ciência Política do que para a prática do dia-a-dia da política nos diversos países. Desde o fim da Guerra Fria, a queda do muro de Berlim e o colapso do Comunismo, o discurso esquerda x direita tem perdido força. Essa perda de força se verifica ainda antes em países com democracias mais desenvolvidas como Estados Unidos, Inglaterra ou nos países nórdicos. Não se discute, há décadas, nesses países o modelo econômico. As questões se concentram de maneira geral em torno de como os partidos se comportariam em temas como assistência social e maior presença do estado no modelo chamado de Welfare State(trabalhistas), ou se o estado tem um papel mais de motivador da economia do que exatamente de um prestador de serviços (conservadores).
O Brasil não tem sido diferente no que se pode observar hoje em termos de partidos políticos. Voltando a 1979, quando da volta do multipartidarismo, vemos ali um quadro ainda com uma forte divisão esquerda x direita perfeitamente encaixado naquele momento de início de transição democrática. O PT se coloca como o grande contestador da ordem estabelecida não apenas no que dizia respeito ao restabelecimento da democracia, mas também no aspecto econômico e social. Pleiteava um estado mais pesado, interventor e como um grande gerente da economia. Essa postura dura até as eleições de 1989 e passa a mudar de maneira mais acentuada em 1992, quando deixam o partido as correntes que viriam a fundar o PSTU.
Esta mudança de postura nos últimos 17 anos aproximou o PT do PSDB. O Partido dos Trabalhadores se transformou em uma sigla de centro-esquerda, o mesmo espectro ideológico que inicialmente abrigou o PSDB. A força dos fatos levou, então, o PSDB a caminhar um pouco mais para a direita, chegando a ultrapassar a linha divisória e se acomodando como um grupo de centro-direita.
Como tudo isso, quero chegar na clara evidência de que um partido para conseguir o prêmio máxim o em uma eleição (majoritária ou proporcional) ele precisa, com a realidade imposta no pós-Guerra Fria, se adequar e caminhar para o centro - venha ele da esquerda ou da direita. Sem isso, não há chance de sucesso hoje em dia.
Poucos meses atrás entrevistei o professor Timothy Powers, da Universidade de Oxford, na Inglaterra. O assunto eram os partidos políticos brasileiros em geral. Concordando com a tese de que os partidos caminham para o centro, para a convergência, ele fez uma afirmação interessante sobre o sistema partidário inglês. Segundo ele, o Partido Conservador está muito parecido com o Partido Trabalhista, ou seja, a sociedade inglesa não tolera radicalismos.
Prova dessa necessidade de “enquadramento ao centro” como estratégia de disputa eleitoral está em um artigo interessante escrito por Luis González e Rosário Queirolo, ele da Universidad Católica do Uruguay, e ela da Universidad de Montevideo.
O texto “Understanding Right and Left in Latin America” mostra um posicionamento de centro (levemente de centro-direita) no eleitorado Latino-Americano. Com exceção da Colômbia e de Honduras (que passam de 6, numa escala de 1 (esquerda) a 10 (direita)) os demais países ficam entre 5 e 6. Em nenhum dos 15 países analisados os eleitores se colocam no campo da esquerda. No Brasil, o índice fica 5.75.
Um dado curioso sobre o Brasil é a análise, ou auto-análise, do eleitorado do PT e do PSDB com base nas eleições de 2006. Na média, os eleitores petistas tem um índice de 5.89 na escala de 1 a 10 para esquerda ou direita. Já os eleitores do PSDB aparecem com o índice de 5.50, ou seja, os eleitores petistas, na média, se posicionam mais à direita do que os tucanos, também na média. Os dados dos últimos anos sobre as eleições no Brasil e na América Latina de um modo geral mostram a tendência ao centro do eleitor dos partidos políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário