segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Para dizer que tem maioria, Oposição toma para si votos que não são dela

Desde que foi derrotada na eleição de outubro do ano passado, a Oposição tenta vender a ideia que teve a maioria dos votos nas urnas (direta ou indiretamente). A ideia começou a ser "comercializada" tão logo o resultado que deu a vitória a Dilma Rousseff foi proclamado. Parte considerável da imprensa comprou o pacote e os oposicionistas, sem exceções, fizeram disso um mantra. Mas como pode isso? Perdeu mas ganhou? É. Nas contas de tucanos, demos e do PPS a soma dos votos de José Serra, de brancos e nulos e das abstenções formam a maioria do eleitorado. Até aí tudo certo, não fosse a ideia de que é uma maioria descontente com, e apenas com, o Governo. O que a Oposição faz é transformar em uma conta matemática simples a leitura do pensamento do eleitorado, algo que envolve conceitos e análises de Teoria Política e que vão muito além do 1 + 1 = 2.

Os números usados pela Oposição são os seguintes. José Serra teve cerca de 43 milhões e 700 mil votos, ou 44% dos votos válidos. A abstenção foi de aproxidamente 20% do total de 135 milhões de eleitores e dos quase 107 milhões de brasileiros que foram às urnas, algo como 6% decidiu por votar nulo ou em branco. Os partidos da Oposição somaram tudo isso e afinaram o discurso: tivemos maioria na eleição presidencial. Somaram ainda o fato de terem vencido a eleição para os governos estaduais em boa parte das unidades mais ricas: São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Goiás (principalmente). Com isso, a oposição associou ao discurso outra pérola: a de que governa a maior parte do PIB. Ora, quem governa a maior parte do PIB e do Orçamento é o Governo Federal e isso já diz tudo.

Bom, voltando ao foco deste texto. Somando os números do parágrafo anterior a Oposição afirma que teve ao seu lado 70% do eleitorado baseando-se em matemática simples. Mas por quê isto é errado na hora de se fazer uma leitura da vontade do eleitorado? Por vários motivos. Correto apenas é que os votos dados a José Serra (e não foram poucos) são realmente o patrimônio eleitoral da Oposição, quanto a isso não há menor dúvida. O problema é apropriar-se daquilo que não é seu, ou seja, de votos brancos e nulos e de abstenções.

Há duas leituras distintas para estes grupos de eleitores. Tradicionalmente os votos brancos e nulos são votos de protesto. O voto nulo é utilizado como forma de mostrar aos polítcos (de oposição e governo) que o eleitor não está satisfeito com a forma de atuação da classe. Votos de eleitores descontentes tanto com o governo quanto com a oposição que se apresenta. Portanto é ilegítimo que a Oposição tome para si e afirme que estes cidadãos estão descontentes apenas com o Governo. Isso é, politicamente, apenas uma meia verdade. Sim, estes eleitores não estão satisfeitos com o Governo, mas também não estão com a Oposição, senão teriam votado... na Oposição.

Em relação às abstenções a inversão é ainda maior. Em países com voto facultativo (no Brasil é obrigatório) a abstenção supera invariavelmente os 50% do eleitorado, a menos que haja uma insatisfação muito grande com o governo como foi o caso da eleição de 2008 nos Estados Unidos (lá o voto é facultativo). Ou seja, no Brasil a tendência é que a abstenção também reflita uma satisfação destes eleitores com o atual governo e que estes prefiram então não participar da votação delegando a outros o poder de decisão. É uma questão de lógica: se alguém está satisfeito com o que vê, por quê vai querer mudar? Se quisesse, iria às urnas e votaria na mudança. Pode no máximo, este eleitor, estar descontente com todas as opções colocadas e decidir não votar por descrença, caindo nas mesmas motivações do voto nulo.

Portanto, o discurso da Oposição de tentar fazer parecer que teve a maioria dos votos em 2010 não soa como algo honesto. É legítimo, sim, que esta Oposição queira atrair esta parcela do eleitorado para o seu lado, bem como queira atrair eleitores que votaram em Dilma. No entanto, para isso, terá que mudar seu discurso, suas práticas e seu modus operandi ao invés de cair no engano de achar que esta parcela do eleitorado está satisfeita com o discurso da atual Oposição. Se assim fosse, e aí mais uma questão de lógica simples, teria votado nas propostas da Oposição. Do jeito que vai, PSDB, DEM e PPS enganam a si e, mais grave, tentam enganar o eleitorado.

Enquanto isso o Democratas se esfarela, o PPS morre à míngua e o PSDB, que tem o dever de ser a grande força de oposição, pelos resultados respeitáveis que teve na última eleição, vive uma briga interna pelo poder ao invés de buscar formular um projeto alternativo sério para o país. Quanto tempo os tucanos perderão novamente nessa briga de egos que virou a disputa interna do partido? O Governo agradece o fato de ter sua tarefa facilitada pela própria Oposição.

Um pouquinho de história. Este discurso de tentar tirar a legitimidade de uma vitória nas urnas e dentro das regras eleitorais remonta à prática da União Democrática Nacional (UDN) nos anos 50. Naquele tempo não havia segundo turno e a vitória na eleição era do candidato que tivesse mais votos. Assim, dos quatro presidentes eleitos na democracia de 1945 a 1964 apenas um teve mais de 50% dos votos. Os demais ficaram abaixo disso e foram alvo da tentativa golpista da UDN de deslegitimar as vitórias. O interessante disso tudo é que os golpístas da UDN ficaram quietinhos quando o candidato apoiado por eles, Jânio Quadros, em 1960, também não alcançou os 50% dos votos.

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