Depois de 70 anos a Inglaterra volta a ter um governo formado por mais de um partido. Conservadores e Liberais-Democratas chegaram a um acordo na terça-feira (11/05) para a formação de um gabinete dividido entre os dois partidos que representam a primeira e a terceira força eleitoral, respectivamente, de acordo com a última eleição. Mas não foi fácil esta costura e aqui não quero entrar nas minudências desse acordo, na questão política em si.
O que quero nesta análise é destacar a dificuldade dos ingleses em compor uma aliança pela absoluta falta de prática ou, num sentido mais sociológico e histórico, pela saudável tradição de ter um sistema partidário forte. No processo que levou à construção da aliança governista ficou evidente o senso de responsabilidade dos partidos, ou boa parte deles, de boa parte da imprensa e dos eleitores, através de comentários a diversas reportagens publicadas nos sites dos principais jornais ingleses.
Houve de maneira generalizada uma preocupação fundada em três pontos: a estabilidade do governo, a estabilidade da política e o fortalecimento dos partidos. Sem falar na questão econômica, também ponderada em muitos fóruns. Os partidos, apesar da tentativa dos Trabalhistas de formarem um governo com mais sete partidos (incluindo os Liberais-Democratas) e manter o poder, atuaram no sentido de fortalecer o sistema inglês. A atuação dos Liberais-Democratas é elogiável no sentido de respeitar a vontade do eleitorado que na sua maioria deu aos Conservadores a vitória na última quinta-feira.
Os ingleses não têm uma tradição de formação de governos com mais de um partido. Embora em alguns momentos, como o início do século XX quando os Trabalhistas tomaram o lugar dos Liberais, o sistema tenha sido tri-partidário (ou de dois partidos e meio, como se costuma dizer na Ciência Política), os governos com raras exceções são compostos por apenas um partido, ou Conservadores ou Trabalhistas.
Tories e Whiggs são as origens do sistema partidário inglês no século XIX. Antes disso, as divisões sociais davam o tom na formação da Câmara dos Comuns. Divisões sociais que convergiram para a formação do quadro partidário. Baseados nessa tradição os partidos assumiram uma postura de responsabilidade perante o eleitorado e deixaram vaidades de lado pondo em curso um governo formado a partir da plataforma dos vencedores, com algumas variações em nome da governabilidade, mas ainda assim baseado na vontade do eleitor.
Antes o Brasil tivesse nos seus partidos este tipo de comportamento comprometido desde suas alianças com as questões meramente de Governo e de manutenção da governabilidade. Antes os nossos partidos fossem pressionados pela sociedade e pela mídia para fazerem acordos baseados em pontos programáticos claros, transparentes. Estamos ainda longe disso. Temos uma tradição partidária, isso é inegável, afinal temos partidos políticos claramente postos desde 1830, porém, isso não significa que tenhamos partidos tradicionais e fortemente enraizados na sociedade. Ainda são, nossos partidos, meros aglomerados de interesses privados e particulares. Apenas isso.
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