Primeiro: o longo tempo como vitrine. Ninguém se sustenta candidato por quatro anos. Mesmo com os índices nas pesquisas sempre mostrando uma vantagem confortável para José Serra em relação a qualquer candidato apresentado pelo governo, os quatro anos em que permaneceu na vitrine como provável candidato do PSDB à Presidência consumiram a vantagem que o ex-governador de São Paulo tinha. Qual seria a saída? Na verdade essa foi uma encruzilhada em que a própria oposição se meteu. Não havia outros nomes. Aécio Neves seria uma alternativa, mas sem garantia de sucesso.
Segundo: o discurso titubeante de Serra. Tentando passar uma ideia de político experiente (o que realmente é), Serra se repete. A campanha é igual a de 2002. Os projetos são os mesmos e parece que Serra não fez nada, ou praticamente nada, em São Paulo. Parece que o candidato tucano faz campanha para ser ministro da Saúde e não presidente da República. Outro erro estratégico é tentar colar em Lula, inclusive arrumando um imitador do presidente na campanha pelo rádio. O eleitorado sabe que Serra não é o candidato de Lula e que Serra não dará continuidade ao governo Lula. Seria mais eficiente mostrar o que será feito para efetivamente melhorar o país. Continuidade é a Dilma e não o Serra.
Terceiro: a escolha do vice. Ao aceitar a imposição do Democratas que indicou um candidato a vice sem a mínima expressão, o PSDB admitiu que a campanha estava perdida. Pois, se qualquer um pode ser vice, é porque isso já não importa mais. E se não importa mais é porque não acredita numa vitória. Índio da Costa não tem expressão para ser vice-presidente da República. O quê ou quem ele representa? Mesmo o Democrata, um quase ex-partido, tem figuras mais expressivas. Cito o senador Demóstenes Torres, a senadora Kátia Abreu (que tem posições claras, concorde-se com elas ou não), o próprio líder do partido no Senado, José Agripino Maia, ou ainda o ex-vice presidente Marco Maciel. Qualquer um agregaria mais que Índio da Costa. Índio da Costa não foi uma indicação, mas um escárnio. O melhor mesmo teria sido Aécio Neves ou a manutenção de Álvaro Dias ou ainda a indicação de outro nome do PSDB. Uma chapa pura tucana talvez puxasse mais facilmente votos de eleitores que defendem o governo Lula, mas não enxergam em Dilma e Temer uma dupla capaz de governar o país.
Quarto: a popularidade do presidente Lula. Apenas 4% dos entrevistados nas pesquisas afirmam que o governo é ruim ou péssimo, ou seja, 96% da população considera o governo no mínimo regular. Este adversário, no momento em que a campanha é colocada na mesa, torna-se praticamente imbatível. Uma tarefa árdua esta que se meteu o PSDB na campanha 2010. Nem Fernando Henrique Cardoso em 1998 quando garantiu a reeleição em primeiro turno tinha tamanha popularidade. Ao final dos oito anos de FHC, em 2002, o então candidato José Serra tinha no governo que apoiava um peso. Ao contrário, Dilma tem no governo e no presidente Lula o grande avalista de sua suposta capacidade de governar. Suposta sim, porque quem se arrisca a garantir que a ex-ministra tem esta capacidade? Este problema aos poucos foi minando a candidatura de oposição, uma candidatura que se mostrava como sólida, mas que bastou chegar às areias movediças da campanha eleitoral para mostrar que seus alicerces são frágeis. Candidatos de partidos de oposição custam a admitir que apoiam Serra. Escondem o nome do candidato como que não querendo comprometer-se.
Quinto: a polarização da campanha. O confronto direto entre Dilma e Serra está se mostrando melhor para a candidata do governo. A terceira opção, Marina Silva (PV), não se mostrou viável a ponto de assegurar, pelo menos até agora, um segundo turno. De início, a tentativa de polarizar a eleição tão defendida por Lula parecia beneficiar Serra, mas o presidente mostrou que tinha uma visão de longo prazo correta. Tirar Ciro Gomes da disputa facilitou a vida de Dilma. Os votos do ex-ministro que de início tendiam a José Serra, parecem ter migrado para Dilma Rousseff.
A síntese da eleição está em Pernambuco. Lá, o candidato à reeleição Eduardo Campos, do PSB, apoiado pelo governo, tem 70% das intenções de votos nas pesquisas. Jarbas Vasconcellos, do PMDB, que dominou o estado por anos a fio e que de repente virou um defensor da ética no Senado, tem 19%. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, prevendo uma derrota humilhante, sequer candidatou-se à reeleição. E, por último, Marco Maciel, do DEM, também senador, tenta a reeleição em uma briga ferrenha com Armando Monteiro Neto, do PTB. Talvez Marco Maciel seja a única vitória da oposição no estado. Quem lidera a disputa para o Senado em Pernambuco? Humberto Costa, ex-ministro da Saúde do governo Lula.
Tudo isso somado leva ao que estamos prestes a ver. Uma virada nas pesquisas indicando que a eleição será definida ainda no primeiro turno. Nem Lula conseguiu esta façanha. Mas, e sempre há um mas em política, ainda falta um mês e meio para a eleição e até lá as coisas podem mudar. Afinal, como dizia Magalhães Pinto, política é como as nuvens, uma hora estão num lugar, noutra em outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário