O Brasil passa por um realinhamento partidário. Natural, sem reforma política ou partidária. O fenômeno vem em curso desde a eleição de 2010 quando o Democratas, então PFL, mostrou que era forte candidato a deixar o grupo dos grandes partidos do país. A eleição de 2010 deixou ainda mais claras as evidências dessa mudança - Lula não precisaria ter dito que o Democratas precisava ser eliminado da política nacional, o curso do enfraquecimento do partido era natural e se mostrou inevitável.
A criação do PSD foi a válvula de escape para muitos políticos que enxergaram na criação de um novo partido uma forma de se apresentar de uma maneira diferente para os eleitores. O Democratas, desde os seus tempos de PFL, já estava desgastado. A temporada na oposição não lhe fez bem (assim como parece não estar fazendo ao PSDB), não serviu para uma análise de erros e acertos e, como consequência, não serviu para uma modernização e ajuste do discurso. Exerceu a velha tradição de nossos políticos que não reconhecem seus erros. Assim, a estada na oposição se prolongou por mais tempo do que o esperado, algo fatal para um partido que se acostumou ao poder por quase 40 anos, uma geração inteira.
O último capítulo do definhamento do DEM/PFL/PDS/ARENA/UDN é o caso Demóstenes Torres, de Goiás, com seu envolvimento com o empresário Carlinhos Cachoeira. A perda de Demóstenes foi um duro golpe no partido já carente de lideranças. O senador goiano vinha numa marcha a favor da ética desde que assumiu seu primeiro mandato em 2003. Era tido como uma das referências no Parlamento em questões de ética, de Direito Constitucional e de Regimento Interno - funcionamento da Casa. Perdeu-se essa referência justamente pelo caminho mais triste, o da falta de ética e decoro. O lamentável é ver que mesmo um parlamentar tido como dos mais éticos pode estar intimamente ligado ao crime.
Voltando ao realinhamento partidário. Mesmo o DEM tendo aberto processo de expulsão contra Demóstenes (que saiu antes de o processo ser concluído), não tira a mancha na imagem do partido que vê sua força sendo reduzida a cada dia. As eleições municipais de outubro devem confirmar uma nova figura do quadro partidário brasileiro. PT, PMDB e PSDB devem continuar sendo as principais siglas na clivagem governo/oposição. No entanto, PSD e PSB devem emergir com mais força. PP, PTB, PR e PDT virão num degrau abaixo, mas acima do DEM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário